quarta-feira, 3 de junho de 2015

O amor e o cólera


"Antes que Florentino Ariza lhe contasse que a tinha visto, sua mãe já o descobrira, porque ele perdeu a fala e o apetite e passava as noites em claro rolando na cama. Mas quando começou a esperar a resposta à sua primeira carta sua ansiedade se complicou com caganeiras e vômitos verdes, perdeu o sentido da orientação e passou a sofrer desmaios repentinos, e a mãe se aterrorizou porque seu estado não se parecia com as desordens do amor e sim com os estragos do cólera. O padrinho de Florentino Ariza, antigo homeopata que tinha sido confidente de Trânsito Ariza desde seus tempos de amante oculta, se alarmou também à primeira vista com o estado do enfermo, porque tinha o pulso tênue, a respiração rascante e os suores pálidos dos moribundos. Mas o exame revelou que não tinha febre, nem dor em nenhuma parte, e a única coisa que sentia de concreto era uma necessidade urgente de morrer. Bastou ao médico um interrogatório insidioso, primeiro a ele e depois à mãe para comprovar uma vez mais que os sintomas do amor são os mesmos do cólera. Receitou infusões de flores de tília para entreter os nervos e sugeriu uma mudança de ares para buscar consolo na distância, mas aquilo por que anelava Florentino Ariza era todo o contrário: gozar seu martírio. 
Trânsito Ariza era uma quadrarona livre com um instinto da felicidade frustrado pela pobreza, e se deleitava com as penas do filho como se fossem suas. Fazia com que bebesse as poções quando o sentia delirar e o enroupava em mantas de lã para enganar os calafrios, mas ao mesmo tempo lhe dava ânimo para confortá-lo em sua prostração. 
_ Aproveite agora que você é jovem para sofrer o mais que puder _ lhe dizia _ que estas coisas não duram toda a vida."



GARCÍA MARQUÉZ, Gabriel. O amor nos tempos do cólera. Rio de Janeiro: Record, 2011.

Já tive o cólera várias vezes. Estou tendo mais uma inútil vez. 

"Deixe que o tempo passe e já veremos o que traz..."


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