sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Pretérito Perfeito e Futuro do Presente*



"Querida Carol.

Quem lhe escreve é a Carol aos 7 anos. Queria saber se todos nossos planos foram realizados. Sabe, você conseguiu passar na faculdade de Veterinária? Precisamos salvar os bichinhos que estão na rua e montar um espaço enorme para abrigá-los. Hoje eu vi mais um e me deu um aperto no coração. Mamãe não me deixou levar pra casa, disse que já temos bichinhos demais. Eu acho que não. Nós só temos um cachorro (o Bobi), uma gata (a Chaminha) e um periquito (o Cris). O peixinho da Dani morreu. Queria enterrar no nosso quintal, mas a vovó me deu uma bronca e disse que ela mesma iria enterrar. Nosso cabelo já cresceu? Não aguento mais ter esse cabelo curtinho, quero fazer tranças, como as coleguinhas da escola. Estou cada vez melhor nas leituras. Todo dia a tia Luiza me chama para ler um texto e me dá sempre um 10. Ela quer que eu explique na feira de Ciências, mas tenho vergonha de falar em público. Como está a Driele? Ela vai explicar junto comigo. É engraçado porque eu sou muito alta e ela é tão pequena... Aliás, ela já cresceu também? E eu, cresci mais? E o Renato, estamos namorando? Hoje falei dele pra mamãe e ela riu muito, disse que sou muito nova para namorar. E perguntei do papai. Ela ficou quieta. Disse que qualquer dia desses nós iríamos visitá-lo. Mas eu sei que esse dia não vai chegar. Você já conheceu ele? E eu já sei nadar? Gostaria tanto de aprender. E um quarto só pra mim, eu tenho? Ele é lilás? E celular! Eu quero tanto um, o da Xuxa! Tia Marli me presenteou com uma Barbie hoje, ela é linda, só que eu queria morena. Não gosto de loiras. Enfim, acho que é só isso que eu gostaria de saber. E ah sim: Como vai todo mundo? Mamãe, Vovó, Dani, Tia Marli... Agora vou ver mais um capítulo de Chiquititas e depois Bananas de Pijamas. Espero que você tenha comprado o CD. Beijos e um super abraço."


"Querida Carol.

Quem lhe escreve é a Carol aos 19 anos. Quase todos os nossos planos foram realizados (espero um dia concluir todos). Não passei na faculdade de Veterinária. Descobri que não é esse o curso que eu queria e a média no ENEM é muito alta para poder passar. Mas passei para Letras. A gente sempre gostou de ler e escrever, não é mesmo? Sempre que posso dou ração para os animais que eu encontro aqui na rua. Infelizmente o Bobi, a Chaminha e o Cris morreram. Mas hoje nós temos um cãozinho chamado Spyke, uma gatinha que também se chama Chaminha e uma outra cachorrinha que se chama Nina. Nosso cabelo cresceu bastante e quase dei a louca de querer cortá-lo bem curtinho, mas desisti. E também não faço tranças. Gosto de usá-lo sempre solto. Estou sempre lendo agora, os textos da faculdade e todos os livros que eu acho legais (e são muitos). Não temos mais vergonha de falar em público. Já falamos em um microfone para mais de 100 pessoas, sabia? A Driele está muito bem, só não cresceu muito. Nos falamos sempre pela internet, pois não temos muito tempo para se ver. Ela faz faculdade também, de turismo. E a gente cresceu muito mais! Estamos com 1,72cm de altura! Não estou namorando com o Renato, aliás descobri que ele é homossexual, nunca daríamos certo. Estou em um rolo muito enrolado com um carinha e ele também gosta de Dragonball Z. Não conheci o papai e ainda estou em dúvida se realmente quero conhecê-lo. Nunca nos procurou e não quis saber de nós, será que é mesmo necessário conhecer ele? Não sei nadar e tenho medo de altura. Temos um quarto só nosso e ele é lilás sim! Também tenho um celular, mas não é o da Xuxa. E não fale assim das loiras, pois uma vez eu já pintei nosso cabelo de loiro, mas não curti. E mamãe nos presenteou com uma Barbie morena, um ano antes de falecer. Sim... A mamãe faleceu. E a Vovó também... Dani vai se casar ano que vem e a Tia Marli está bem, mesmo me dando um susto as vezes. Está dodói, precisa de cuidados. Acho que é isso. E eu não comprei o CD do Bananas de Pijamas nem das Chiquititas, mas sim de uma banda chamada Guns N' Roses. Nossa banda preferida. Suas músicas nos ajudaram bastante em vários momentos da nossa vida. Beijos e um super hiper mega abraço."


* Post inspirado no texto "Túnel do Tempo" do escritor, ator e um dos criadores do Portal de humor "Porta dos Fundos", Gregorio Duvivier.



Email do Blog: umpoucodecarolmachado@hotmail.com

terça-feira, 23 de julho de 2013

Solidão não é tão ruim...


As vezes precisamos de um tempo com nós mesmos. Organizar os pensamentos e ter nossa privacidade. Com tudo que acontece ao meu redor tem vezes que eu sinto enjoo das pessoas, da voz delas, do modo como elas pensam e agem. Daí eu me tranco. Me reservo no meu canto. Coloco uma boa música para ouvir e fico deitada na cama olhando para o teto. Fecho os olhos e presto atenção na minha respiração... Um filme vai passando pela minha cabeça me fazendo lembrar do que eu queria lembrar e do que eu não queria lembrar também. Por que as pessoas são desse jeito? Qual o motivo delas agirem tão estupidamente? Sei que erro (e muito) mas os erros que tais pessoas já cometeram comigo são maiores e mais graves. Como aguentei? Como superei? Da onde tiro tanta paciência e calma? Será que não sou daqui? Será que eu sou a única que penso e repenso mil vezes antes de tomar qualquer atitude? Será que sou daquelas almas que quando erra se arrepende e pede perdão sem ressentimento? É o certo a fazer, ou não é? Só tenho certeza de uma coisa: Palavras mal ditas machucam mais do que uma pancada. Palavras malditas doem mais do que uma pancreatite aguda. Não existe anestesia que apague tal dor. 
Solidão é um dos males do século, mas eu acho que não. Solidão também é necessário. Mesmo que você se vire e revire de saudade, querendo tanto um abraço de tal pessoa, um dia você vai precisar da tal solidão. Um dia a gente cansa sabe? E existe gatos. E existe cachorros, pássaros, iguanas e rinocerontes. Não importa o bichinho. Animais vão te amar sempre se você os amar de volta e o mais importante de tudo: Eles não falam. E se falar como o papagaio, apenas vai repetir o que você diz. Se você fala: "Eu te amo", ele vai repetir: "Eu te amo". Sem cobranças, sem aquilo de "Será que ele me ama mesmo?". Por isso eu amo animais. E amo xingar os outros de animal também. O que não devia ser um xingamento! Pessoas é que devia ser um xingamento... Ao invés de: "Ah sua vaca...", poderia ser: "Ah sua pessoa sem coração!". Seria mais verdadeiro. 
Do que adianta defender a solidão se no final de tudo eu sei que vou dizer que prefiro a companhia da pessoa do que ficar sozinha no meu quarto com a minha gata. Não adianta. Fomos feitos para conviver. E se apaixonar. E amar. Mesmo que seja tão difícil, que não seja compreendido e retribuído. Uma hora vai dar certo. Até lá... Cabeçada na parede, lágrimas em um sábado à noite, domingos vendo porcarias na TV e inveja de quem já conseguiu isso. Uma inveja boa. Do querer ter também. 



Email do Blog: umpoucodecarolmachado@hotmail.com

domingo, 23 de junho de 2013

Oi. Eu voltei.



Pois é. Eu sumi, não foi? Muito tempo sem postar aqui, sem aparecer no face, no tumblr... Enfim, foi por um motivo muito grave. Bem grave, na verdade.
Em uma bela quarta - feira à noite eu estava normalmente usando o computador e comecei a sentir pequenas dores em minha barriga. Achei que não fosse nada, apenas cólicas ou frescurice do meu estômago por eu ter comido muita besteira naquele dia. Achei que fosse passar, mas não passou. Na verdade a dor só aumentou. Me deitei na cama e comecei a massagear minha barriga pra ver se passava e... Não passou. Na verdade piorou e eu comecei a vomitar e vomitar sem parar. Tomei tudo quanto foi remédio e nada. Até que no auge da mais profunda dor eu pedi para me levarem ao hospital (e eu odeio hospitais, mas foi preciso).
Chegando lá a dor continuava e muito mais forte. Colocaram soro na minha veia depois de inúmeras tentativas (sim, minhas veias estouram do nada). Até que a dor aumentou mais uma vez e eu desmaiei. Quando acordei a dor tinha diminuído, pois tinham me dado um baita remédio, daqueles super fortes que tiram a dor, mas também trazem aqueles efeitos indesejáveis como tontura, moleza e delírios. Sim, delírios. 
Adormeci e acordei numa ambulância. Me transferiram para um outro hospital. Nem sabia mais onde eu estava. Chegando lá, mais soro, mais veias estourando e uma porta com aquela sigla bem grande estampada: CTI. Minha família não poderia ficar mais comigo, então entrei naquele lugar acompanhada por vários enfermeiros, médicos e outros pacientes que por sinal eram muito mais velhos e estavam em um estado pior que o meu. Fiquei quietinha na minha cama... Até que veio aquela frase de um médico: "A veia dela é frágil... Teremos que fazer um acesso profundo." O que seria acesso profundo? Eu descobri. Colocam anestesia local em alguma parte do seu corpo (no meu, foi perto do pescoço), abrem e colocam um bagulho lá pro soro não sair mais daquela veia. Doeu? Um pouco, aquela anestesia é boa. O nervoso que dá é o pior de tudo. Ver aquele médico abrindo lá no sei o que e sangrando... E coloca aquele ferrinho com aquele soro e tal... Eu sei que se não fosse o enfermeiro me distraindo eu teria desmaiado de novo. Anoiteceu, não sei, acho que sim, não sei se era mais noite ou dia. Só ficava ouvindo aquele barulhinho daquelas máquinas que ficavam observando o batimento do meu coração... Os eletrodos. Fiquei com vários deles no meu corpo. Aquilo me irritava. Quando eu sentia vontade de ir ao banheiro tinha que chamar um enfermeiro e esperar sua boa vontade para tirar o meu acesso, os eletrodos e mais aquele monte de fio pra aí sim eu poder ir ao banheiro em paz. Quando voltava, tinha que colocar tudo de novo... Era cansativo.
Naquela noite uma senhora que estava ao meu lado faleceu. Eu acordei com o falatório dos enfermeiros e vi um deles fazendo aquela massagem cardíaca nela... Até que veio uma enfermeira e fechou minha cortina. Disse que não era bom eu ver aquilo, pois ficaria impressionada. Eu já tinha visto. Ela tinha falecido. Uma senhora faleceu bem na minha frente.
Os dias se passaram... Minha família só tinha uma hora de visita. Quando eles iam embora eu chorava muito. Estava me sentindo sozinha. Meus amigos não sabiam que eu estava naquela situação. Queria usar o celular, mas no CTI era proibido. Estava me sentindo presa, não tinha nada pra fazer. Eu apenas rezava e lia. Pedia a Deus para me tirar logo daquele lugar. 
Fiz amizades com alguns enfermeiros e eles me deram uma informação: "Carol, pede transferência desse hospital. A ala cirúrgica daqui não é boa.". Eu estava com pancreatite aguda. No meu caso, foi genético. Meu pai ou minha mãe tiveram esse probleminha no pâncreas e eu acabei tendo também. Precisava fazer uma endoscopia para tirar um cálculo que estava no pâncreas e depois de algum tempo uma cirurgia por meio de vídeo para tirar minha vesícula. É, era grave mesmo. 
Falei para minha família o que meus amigos enfermeiros tinham dito. A preocupação foi total e eu também não estava me sentindo bem naquele hospital. Sei lá, algo me dizia que ali não era um bom lugar. Até que minha irmã com muito sacrifício conseguiu uma transferência para um hospital bem melhor. Me despedi dos meus amigos enfermeiros e fui para o outro hospital.
Chegando nesse novo lugar, fui para o CTI mesmo. Tiraram aquele acesso e fizeram outro, dessa vez no meu pescoço. Esse foi mais sofrido. Minha veia estourou um monte de vezes e eu fiquei nervosa, pois enfermeiro, médica e um outro médico não tinham conseguido. Até que esse médico tentou de novo e depois de muitas lágrimas minhas, ele conseguiu. Que sufoco!
Fiquei dois dias nesse CTI e depois fui para o quarto. Que alívio. Eu podia ver Tv, eu podia usar o celular e o mais importante de tudo: O tempo para ver minha família era muito maior. Mesmo assim quando eles iam embora, eu chorava. Me sentia muito sozinha.
Fiquei feliz por que uma certa pessoa que eu gosto muito estava se preocupando comigo. Depois a gente brigou, ele me disse umas coisas horríveis e que me deixaram super triste, mas algo me dizia que não era verdadeiro o que ele disse. E algo não me deixa desistir. Sou guerreira e não vou desistir dessa pessoa, vou lutar enquanto puder.
E eu fui fazer a tal endoscopia. Demorou mais esperando do que o procedimento. A anestesia geral entrou, o médico falou: "Você vai entrar num sono profundo..." e eu apaguei. Não lembro de mais nada. Acordei com a minha irmã perguntando se estava tudo bem e eu só consegui responder: "Mas já acabou? Foi tão rápido...".
E enfim eu estava melhorando e recebi minha alta! Foi o momento mais feliz que eu pude viver. Saí daquele hospital com um sorrisão, camisa do Guns, óculos escuro e lágrimas no olhar. Eu tinha vencido mais uma fase. E vou ter que vencer outra, pois ainda não acabou. Ainda tem a tal cirurgia daqui a alguns dias... Deus vai me proteger e tudo vai dar certo. Até lá eu me cuido, como coisas saudáveis e me viro com barrinhas de cereais e suco de laranja.
To melhorzinha, vou voltar pra facu, vou voltar a postar aqui quando der e... Esse ano está sendo difícil pra mim, mas estou me surpreendendo com minha força de vontade e o nunca querer desistir. Fé sempre!




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